Em Natal, ABC impõe redução salarial pelo celular
- Olavo David
- 12 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
As reduções foram impostas, como diz um atleta sob condição de anonimato, na semana passada. Conforme relata, a insatisfação no plantel alvinegro não se dá pela redução em si, mas pela forma como foram conduzidas as negociações.
A crise em decorrência da pandemia do novo coronavírus deixou as relações trabalhistas no futebol, sempre tão confusas, ainda mais precárias. No ABC/RN, a situação chegou ao ponto de ligações telefônicas definirem reduções salariais do elenco. Nesta segunda (11), o Sindicato dos Atletas de Futebol Profissional do Rio Grande do Norte (Safern) emitiu nota atribuída ao elenco abecedista na qual os jogadores contestam a forma escolhida pelo clube ao conduzir o processo. Os cortes no elenco chegaram a 50% dos salários de alguns profissionais.
Sob condição de anonimato, um desportista alvinegro explicou ao Entrelinhas a dinâmica do acordo imposto pela diretoria do Clube do Povo. “Não houve conversa do que iria ser feito ou não. Ligaram para cada jogador e ofereceram coisas diferentes”, afirma o profissional. “Para alguns ofereceram um teto de R$ 3 mil. Quem tinha salários mais altos receberia esse valor, e com o resto seria algo proporcional mesmo”, relatou a fonte. Ela ainda afirmou que não tem cópia do acordo, o que dificulta ainda mais uma possível contestação.
As reduções foram impostas, como diz o atleta, na semana passada. Conforme relata, a insatisfação no plantel alvinegro não se dá pela redução em si, mas pela forma como foram conduzidas as negociações. “Todos sabemos que tem o lado que quer receber e tem o lado do clube, que até quer pagar, mas a situação está difícil mesmo”, pondera o desportista. “Só que eles não conversaram, não negociaram nada com o elenco. Só ligaram e reduziram o salário. Não foram transparentes”, completa. Segundo os periódicos Tribuna do Norte (RN) e JC Online (PE), a folha mensal do ABC é de R$ 250 mil.
Antes das ligações, à exceção dos contatos com o Departamento Médico, que orienta acerca de prevenções e exercícios em meio ao isolamento, a única reunião entre diretoria e elenco não tinha na pauta alterações na folha de pagamentos ao plantel principal. “Teve um encontro geral com o presidente [Bira Marques] que nos passou a situação, disse que não tinha previsão de receitas. Mas nada de redução salarial”, afirma o atleta. Ainda segundo o contato, atletas mais vulneráveis financeiramente se viram numa encruzilhada e fecharam o negócio.
Orientações nacionais
A atitude do alvinegro contraria inclusive as recomendações da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que solicitou, por meio da Comissão Nacional de Clubes, “um processo de diálogo que permita acordos trabalhistas justos e equilibrados para clubes, atletas e funcionários”. Cabe lembrar que o roupeiro Joca, com mais de 50 anos de casa, fez parte da barca que zarpou do Frasqueirão levando cerca de 30 funcionários administrativos do clube ainda em março, pouco tempo depois do primeiro caso confirmado da covid-19 no estado.
A dispensa em massa se deu logo após a paralisação do Campeonato Potiguar, certame do qual o ABC, pela conquista do primeiro turno, já é finalista - e também líder do returno. Com isso, o Mais Querido também garantiu uma das vagas do estado nas Copas do Nordeste e do Brasil, além da Série D de 2021, caso não suba nesta temporada. Já no mês passado, o clube recebeu o incentivo de R$ 120 mil encaminhado pela CBF aos clubes da quarta divisão nacional.
Esse é um dos temas abordados na nota redigida pelo elenco e publicada pelo Safern. No documento, os esportistas afirmam entender o momento de crise, mas pedem participação nas decisões. Principalmente as que envolvem seus próprios rendimentos. “Ressaltamos que somos solidários, e estamos inteirados com a crise e a pandemia que nos assola”, diz o texto. “Nosso pedido seria apenas para que qualquer decisão tomada referente a nós, atletas, nos fosse comunicada e acordada, para que assim não houvesse divergências”, colocam os jogadores do ABC.
Apesar das reclamações, o jogador se diz compreensivo com o momento do clube, que vinha respeitando prazos e pagamentos. “Até a paralisação todos os compromissos foram honrados, tudo que foi prometido na pré-temporada foi cumprido”, lembra o profissional, que também recorda que o elo mais frágil da corrente saiu prejudicado com as atitudes dos cartolas abecedistas. “A gente sabe da dificuldade do ABC, das dívidas trabalhistas, mas temos de nos manter durante essa pandemia. A classe tem que se unir e exigir mais respeito”, finalizou.
Respostas
O Entrelinhas encaminhou mensagem ao clube por meio do endereço de e-mail disponível no portal oficial da instituição. Foram questionados os métodos de negociação da diretoria alvinegra, bem como a situação dos salários dos diretores e possíveis contornos à situação salarial. Até a publicação deste texto, porém, não houve resposta. Caso o ABC se manifeste, esta reportagem será atualizada.
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