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“Luta” agora é nas ruas

  • Foto do escritor: Pedro Marra
    Pedro Marra
  • 21 de jul. de 2020
  • 4 min de leitura

Responsável por trazer o muay thai para Brasília, Mestre Damião vive em situação de rua no Paranoá

 

Campeão de artes marciais, grão-mestre de muay thai e luta livre esportiva, além de professor de vale tudo. Em resumo, esse é o currículo do mestre Damião Marques Fernandes, cearense de 60 anos, que veio do Rio de Janeiro para Brasília em 7 de setembro de 1986 para lutar. Logo depois, mudou o foco para dar aulas em academias da cidade. Mas o alcoolismo e a depressão o levaram para uma situação de rua, em que se encontra no Paranoá.


Um alento é o apoio que recebe toda sexta-feira com a doação de cobertor e comida feita pelo grupo Amigos voluntários SOS. Um dos responsáveis é o morador da região, Cristiano César Soares, 31 anos, que conta como tem sido ajudar o campeão das lutas. “Ele anda e dorme na transversal da avenida do Paranoá, na quadra 24. Precisamos de apoio para tirá-lo da rua. Ele fala que quer sair, mas por conta da dependência da bebida alcoólica e da depressão, ele volta. Os familiares também tentam levá-lo para casa, mas ele acaba fugindo”, relata.


Por diversas vezes, ex-alunos e integrantes do grupo comunitário já levaram o mestre Damião para clínicas de reabilitação, mas pela abstinência do álcool, ele se irrita e acabam tendo que dispensá-lo. “Ele precisa ir para uma clínica compulsória, porque se ele ficar sem beber, volta ao estado normal por conta da genética de atleta. Quando ele perdeu um filho de 15 anos em 2006, acredito que ele caiu em depressão, separou da esposa, mas muitos irmãos dele o ajudavam. Porém ele passava um ano sem beber, depois voltava. Em 2019 para cá, ele ficou todo o tempo na rua”, conta André Borges, 37 anos, aluno de Damião em 2000, no Paranoá.


Atualmente, Damião recebe apoio do grupo Amigos voluntários SOS, no Paranoá - Fotos: imagens cedidas ao Entrelinhas



Após adquirir aprendizado no Rio de Janeiro com o grão-mestre Nélio Naja, quem introduziu o muay thai no Brasil, Damião chegou a Brasília para ensinar a arte marcial. Tanto que construiu academias em Taguatinga, Lago Sul e Asa Norte. "Ele veio para cá constituir família. Mesmo com o vício em cocaína, ele ainda conseguia lutar e dar aulas. Aí em 1997, resolveu parar de competir. Desde então, tentamos colocá-lo em uma clínica, mas precisamos de uma em que ela possa ficar dopado por muito tempo”, opina André.

Até uma vaquinha foi criada para ajudar Damião com os custos da mensalidade na clínica. “Arrecadamos R$ 600 uma vez. Com R$ 300, pagamos um psiquiatra para passar laudo com remédios. Já, a outra metade, nós usamos para pagar a gasolina e levá-lo até uma clínica na Cidade Ocidental-GO, além de remédio e roupas”, conta o ex-aluno do mestre.


“Vamos continuar tentando”, diz primeiro aluno

Faixa preta de kung fu, karatê e muay thai, Damião teve muitos alunos. Mas o primeiro foi Manoel Magalhães, 54 anos, que atualmente é assistente social e conselheiro tutelar no Paranoá. Com o cearense, ele virou profissional de luta livre, mestre de muay thai e 4ª DAN de karatê. "Comecei a treinar com ele após duas semanas da sua chegada. Ele sempre foi muito guerreiro como lutador e pessoa. A história da depressão começou bem antes, no Rio, quando ele perdeu o filho Taigro, de 14 anos. Mas dos ensinamentos que guardo com muito carinho é a questão da disciplina e da honra daquele que me ensinou”, emociona-se.


Assim como André, Manoel já colocou Damião em várias clínicas de reabilitação.

“Venho acompanhando essa história dele de internação há muito tempo. Já o levei para morar na minha casa um tempo. Ele chegou a um nível que é muito difícil. Para a gente é um sofrimento porque não queremos vê-lo assim. Era um cara que tinha uma autoestima boa, gostava de andar arrumadinho. Hoje, a gente não vê isso nele, para ele tanto faz. É como se ele tivesse chegado no fundo do poço e não tivesse força para retomar, apesar das ajudas que tem. Mas vamos continuar tentando”, afirma Manoel.

Primeiro aluno do Mestre Damião, Manoel leva seu professor para treinar sempre quando consegue - Fotos: arquivo pessoal



“Aprendi que o simples funciona”, afirma sobrinho lutador

Sobrinho de Damião, Gabriel Castro, 28 anos, conta como é a relação com o tio, que o ensinou muay thai, modalidade em que hoje ele o rapaz é faixa preta. "Graças a Deus, tive a oportunidade de absorver um pouco de conhecimento com ele e sou muito grato. Aprendi que o simples funciona. E a semente que ele plantou em Brasília hoje tem raízes profundas", analisa Gabriel.


"Desde que me conheço como gente ele tem esse problema com alcoolismo. Tivemos um bom relacionamento. Treinei um bom tempo com ele. Mas é triste ver que ele não quer sair da rua. Muitas pessoas acham que não queremos ajudar, porém já foram muitas tentativas. Nunca foi negado nada para ele", esclarece o sobrinho de Damião.



Gabriel junto com o amigo Kleuver e o tio, Damião

Fotos: reprodução/Instagram


SERVIÇO

Amigos voluntários SOS

Contato para doações

(61) 9 9403-5843/ 9 9149-0568

Local de entrega das doações: toda sexta-feira no quiosque da Tia Graça, ao lado da Administração Regional do Paranoá

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