O Entrelinhas conversou com Antônio Lopes, campeão Brasileiro e da Libertadores pelo Vasco, e que está de volta ao Gigante da Colina. Desta vez, como coordenador técnico
“Não faço a menor ideia, meu filho. Foram tantos estaduais, Rio-São Paulo, Libertadores, Copa do Mundo. Não lembro de cabeça”. Assim respondeu Antônio Lopes, ao ser perguntado logo no começo da entrevista concedida ao Entrelinhas sobre se tinha de cabeça quantos títulos ele conquistou em sua carreira. A reportagem então pesquisou e resolveu ajudar um dos grandes ícones da história do Vasco, que está de volta ao Gigante da Colina, agora como coordenador técnico. Lopes, em toda sua carreira seja como jogador, técnico e outras funções, você tem 19 títulos!
Durante o bate-papo com o senhor de 78 anos, mas que mostra estar muito atento e ambicioso nessa nova empreitada que assumiu no Vasco, Antônio Lopes falou sobre o momento do cruz-maltino, que tem várias dívidas com atletas (alguns deles dizem não terem recebido nem um centavo em 2020, e já estamos na reta final de maio). Indagado se usaria a experiência dele para motivar os jogadores, mesmo com essa situação difícil, respondeu.
“Conversar o quê? Não temos o que conversar não. São todos maiores de idade, sabem que o momento financeiro de todo o futebol brasileiro, com exceções de Palmeiras e Flamengo, é ruim mesmo. E fica no Vasco quem quiser”, disparou Lopes.
Ele foi anunciado como novo coordenador técnico do clube, já com as atividades paralisadas em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Lopes chegou após o Vasco anunciar Ramon Menezes, que treinava a base da agremiação, como substituto de Abel Braga, que pediu demissão após um início de ano conturbado nas bandas de São Januário.
“Já fizemos reuniões em videoconferência com o Ramon e demais membros da comissão técnica. Os preparadores físicos fizeram uma planilha para os jogadores fazerem atividades físicas em casa para que o impacto seja o menor quando o Vasco puder voltar a treinar. É difícil fazer um planejamento sem datas certas, sem calendário definido pela frente. Mas não estamos parados”, explicou, para em seguida completar com tom de otimismo: “dá para fazer um bom trabalho aqui no Vasco esse ano, sim. Temos um time relativamente bom. Uma mescla de jogadores mais experientes com os jovens da base. Se acreditarem no que dissermos, podemos surpreender muitos por aí”.
Passado inesquecível
Dentre os títulos que Antônio Lopes conquistou, alguns não têm como ele esquecer. Ele assumiu o Vasco em 1996, com um time bastante questionável e montou uma equipe que no ano seguinte foi campeã brasileira e dois anos depois ergueu a taça mais importante da história, a de Campeão Taça da Libertadores da América. “Quando cheguei, o time não estava bem. Subimos alguns jogadores da base como o Maricá, Geder, Felipe, Pedrinho... contratamos o Nasa, do Madureira, e o Odvan, do Americano. E no ano seguinte (1997) ganhamos o Brasileiro com o time já entrosado. Ainda pegamos jogadores que, por incrível que pareça, estavam desacreditados em seus times como Mauro Galvão e Evair. Todos com custo baixo, pois o Vasco não tinha muito recurso para contratar, mas pagava todos os salários em dia”.
Capítulo à parte dessa história é Edmundo. O Animal arrebentou naquele ano, fez 29 gols no Campeonato Brasileiro, sendo o protagonista dessa conquista vascaína. Porém, Lopes explica que ele foi o responsável por uma mudança tática fundamental. “O Edmundo, craque que sempre foi, jogava no meio-campo na época, como um camisa 10. Pelo talento dele, achei que ele se daria melhor como atacante, mais próximo da área. Mudei a posição do Edmundo e a história está aí para provar o tanto que deu certo”.
Em 1998, o Vasco perdeu alguns jogadores importantes, mas, mesmo assim, chegou ao tão sonhado título da Libertadores. “Edmundo foi para a Itália (Fiorentina), Evair era dono dos direitos federativos e econômicos dele e optou por sair (foi para a Portuguesa). Perdemos nossa dupla de ataque. Aí fomos ao mercado e trouxemos o Luizão e o Donizete (Pantera) que se entrosaram rapidamente e com, muita raça e inteligência, ganhamos a Libertadores. A primeira do clube”.
Com a taça nas mãos, o Vasco foi disputar o Mundial de Clubes contra o Real Madrid. Perdeu por 2 x 1, mas Antônio Lopes não reclama do time. “O Real Madrid era uma seleção mundial. Só tinha estrela. Não jogamos muito bem, dominamos o jogo e quase chegamos lá. Sem tirar os méritos deles, faltou um pouco de sorte para a gente também”.
Seleção Brasileira
Alguns podem até não lembrar, mas Antônio Lopes não se esquece de forma alguma. Ele fez parte da comissão técnica da Seleção Brasileira, campeão do Mundo em 2002. Aquela mesma em que há até hoje um debate sobre quem foi o destaque: Ronaldo Fenômeno ou Rivaldo. “Essas comparações não servem. Principalmente para aquela solução. O conjunto era todo excelente. Os laterais, zagueiros, o Gaúcho (Ronaldinho). Não dá para colocar na conta de um de outro. Foi o título do conjunto mesmo”, crê Antônio Lopes.
Ele aproveita para contar o dia em que a comissão técnica passou a acreditar e quase ter certeza que o título viria. “Rapaz, depois daquela vitória contra a Inglaterra, a gente da comissão passou a ter certeza que viria coisa boa. Mostramos poder de reação, pois começamos perdendo. Ficamos com um a menos e a força do grupo foi provada. Mas nunca falamos isso para os jogadores para evitar algum tipo de comodismo deles. Mas a comissão ganhou uma grande confiança depois daquele jogo”, finalizou.
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