Pai apostou R$ 9 mil em viagem para nova joia do Barcelona
- Pedro Marra
- 14 de ago. de 2020
- 4 min de leitura
Conheça a história de Gustavo Maia, nascido em família humilde e que teve em seu pai, William Antonio seu grande apoiador. Jogador tem multa rescisória de quase R$ 2 bilhões
Pai vendeu o carro para custear uma viagem do filho até ver o garoto ficar alojado no Centro de Treinamento do São Paulo, em Cotia-SP, após fazer dez testes, e ser vendido para o Barcelona B por 4,5 milhões de euros (R$ 28,7 milhões). Essa é um pouco da caminhada de Gustavo Maia, 19 anos, garoto nascido em Santa Maria (DF), nova promessa do clube catalão.
Assim como a habilidade em campo da joia, a multa rescisória da jovem promessa também surpreende: são 300 milhões de euros (R$ 1,9 bilhões) estabelecidos. Os direitos do jogador ficam divididos da seguinte forma: 70% do Barcelona e 30% do São Paulo. O time europeu adiantou R$ 6,39 milhões ao clube paulista para ter preferência na compra da revelação. O restante, R$ 22,3 milhões, foi pago ao Tricolor Paulista antes da contratação oficial, sacramentada pelo Barça em 6 de agosto. O contrato de Gustavo vai até 30 de junho de 2025.
Mas a trajetória teve muito suor para o filho do ex-vigilante, William Antonio de Sousa, 34 anos.
“Na casa do avô dele tinha uma bola de basquete que ele chutava tanto nas paredes que os pés dele ficavam feridos porque jogava com uma bola de basquete. A gente tinha que brigar para ele parar. Isso com três até cinco anos de idade. Mas ele já tinha um dom desde pequeno. Comprei uma chuteirinha para ele e não tinha quem tirasse ela do pé do Gustavo. Ele nunca gostou de carrinho ou bicicleta, era só bola”, lembra o ex-vigilante.
Maia ganhou sete títulos na base do São Paulo, como a Taça BH Sub-17, em 2016 - Fotos: divulgação/SPFC
William relembra como foi o começo do filho nas escolinhas do Distrito Federal quando o garoto completou 11 anos. “O levei para a escolinha do Milan-DF, em Santa Maria. Em todos os campeonatos ele era artilheiro. Com 12 anos, os técnicos do Brasília Futebol Academia (BFA) viram que ele era diferenciado e pediram para ir em um sábado para fazer um teste. Fui de manhã cedo no Setor de Clubes Sul. Chegamos lá e tinha acabado o primeiro tempo. O técnico Ecio disse para ele vestir o uniforme e entrar. Ele entrou e fez quatro gols. Acabou o jogo e o Écio e o outro técnico, Edilson, me chamaram para falar sobre a mensalidade e deram bolsa para o Gustavo. Acreditaram nele e hoje está aí", relata.
Gustavo Maia (ao centro) pela escolinha do Milan-DF, de Santa Maria - Foto: reprodução/Facebook

O pai do garoto recorda também quando vendeu o próprio carro para pagar uma viagem de Gustavo a Minas Gerais, jogar pelo Brasília Futebol Academia (BFA), onde entrou com 11 anos. “Ele retornou de um torneio em Diamantina-MG, onde tinha mais de 100 clubes em que foi artilheiro. Aí surgiu um amistoso contra o São Paulo. Vendi um carro que eu tinha por R$ 9 mil, era um Corsa Sedan 2001. Paguei a viagem para ele, que custou R$ 1 mil. Lá, o São Paulo entrou em contato para ficar monitorando ele”, recorda.
William lembra também quando viajou de carro em 2015 com a esposa até São Paulo para deixar o filho no CT de Cotia, quando o rapaz já tinha os 14 anos necessários para ficar alojado em um clube. “Ele nunca tinha dormido fora de casa. Quando o deixamos lá, choramos na viagem de volta inteira”, emociona-se.
Maia também tem outras responsabilidades na vida. É pai de Lorena, sua filha de oito meses. “Também o tive com 19 anos. Falo para lembrar o que o pai e a mãe fizeram para ele estar assim hoje. É valorizar o que tem, ainda mais agora com uma filha. Se ele trabalha 10 horas por dia, vai começar a trabalhar 20 horas por causa da sua filha”, diz William.
"Vai ser vencedor", diz técnico em Brasília
Como o pai de Gustavo citou anteriormente, foi no Brasília Futebol Academia (BFA), time de futebol do clube da Caesb (Caeso), no Guará, onde Maia começou a mostrar o seu futebol pelo Distrito Federal. “Ele veio de um parceiro meu de um projeto de Santa Maria. Jogou comigo dos 11 aos 13 anos. Foi campeão da Copa Sul-Americana, em São Paulo. É um atleta com ótima leitura de jogo, busca o gol o tempo todo, mas sabe dar assistência. Vai ser vencedor”, garante Ecio Antunes Morgado, treinador de Maia, em Brasília.

O técnico de Maia em Brasília comenta como foram as primeiras impressões do garoto no campo do Caeso. “Eu cobrava muito dele a forma e o jeito de finalizar e se movimentar. Ele é muito disciplinado. Percebi que havia muito talento e facilidade em fazer gols. É só aprimorar”, analisa o treinador.
Maia foi multicampeão na base do Tricolor paulista ao conquistar sete títulos: Copa Brasil Votorantim dos Sub-15 em 2016, Aspire Tri-Series Sub-16, Taça BH Sub-17, Copa Salvador de Sub-17, Copa Ouro Sub-17 em 2017, Copa FAM dos Sub-17 e League Challenge Cup em 2018.
Além disso, a promessa mostra faro de gol apurado: fez 30 gols nos 36 jogos de 2018. Foi artilheiro do Paulistão do mesmo ano com 21 gols. “Pedi para que ele se dedicasse ao máximo agora [no Barcelona B]. Vai encontrar um futebol moderno. Mas precisa se adaptar na maneira de jogador do europeu. Mas como sul-americano vai ser diferenciado”, relata Ecio.
Muito legal ver que o pai investiu no filho.... só comemorar agora